Esses dias você me visitou. 
Era uma terça-feira como a da semana passada. 
Pela manhã, após o banho, fui ao guarda-roupas escolher uma camiseta para trabalhar.  
 
– Essa usei anteontem. 
– Essa parece uma que usei ontem. 
– Essa já tá bem cansada. 
 
– Nossa, esta. 
 
Peguei, sentei na borda da cama ainda de toalha e, sem querer, rebobinei o filme da minha vida até o nosso primeiro dia. 
 
Voltei para a primeira vez que a gente saiu e você entrou na minha vida. 
Comprei aquela camiseta no intervalo entre a sua mensagem de “confirmado” sobre o que fazer no dia seguinte e o próprio dia seguinte. 
 
Engraçado como um encontro esconde detalhes, né? Ninguém faz ideia do quanto a outra pessoa se prepara para um encontro. Mas também pudera, é praticamente a chance única de deixar uma boa impressão capaz de garantir um segundo, terceiro e vários outros encontros. 
 
Como foi o nosso caso. Aquela nossa primeira vez ficou tão distante da última. 
A gente se viu tanto. A gente saiu tantas outras. 
 
No Whatsapp, a nossa conversa reinou todo o tempo lá no topo. A biblioteca de imagens passou rápido das mil fotos. Memes, pratos feios de almoços gostosos e prints diversos preenchiam nossa rotina. Sinal de que a gente se dava bem. 
 
Eu gostava. 
Quanto tempo a gente aconteceu? 
Se fosse um livro, a gente seria aqueles mais longos ou mais curtos? 
Um filme de três horas ou um episódio de série? 
Livros curtos e episódios de séries não significam histórias para esquecer. 
Talvez tenha faltado a gente ler a trilogia ou assistir à temporada completa. 
Mas foi quase, né. 
A gente foi um quase. 
 
Aquela camiseta não era exatamente especial, mas o significado que ela ganhou sim. 
Inclusive, com a camiseta esticada nas minhas pernas enquanto pensava nisso tudo, lembrei que você disse ter gostado dela. Nunca vou esquecer como meu coração se fez réveillon. 
 
Você fez isso comigo. Desde o comecinho. O que aconteceu com a gente me apresentou uma versão minha diferente; uma versão que virou minha preferida. Gostava das nossas conversas, mas é menos sobre os assuntos e mais sobre o jeito que a gente conversava. Você me convencia que estava interessada nas coisas que eu tinha para dizer, ainda que fosse a minha opinião sobre pastel. Percebi que ganhava mais quando te deixava falar sem minhas interrupções ansiosas. Era por texto. Era pessoalmente ou por olhares. A gente tinha uma ligação que eu vibrava. 

Na época, tão excitado pelo começo, fiquei arrasado com o fim. 
Fiquei pensando se tiramos o celular da tomada antes de apontar cem porcento da bateria recarregada. E talvez eu pense nisso muitas outras vezes. Todo quase gera uma dúvida que a gente vai administrando a cada lembrança. 
Hoje entendo como fomos a página que a gente precisava na história um do outro. Algumas histórias precisam acontecer de alguma maneira, nem sempre da maneira que a gente quer. Talvez a gente tenha sido um quase porque a gente buscava se completar um com o outro, quando a gente já deveria ser completo sozinhos. Um monte de talvez. 
 
Esses dias você me visitou. 
Naquela terça, por meio daquela camiseta, eu voltei no tempo para o exato momento em que toda a minha atenção do mundo estava voltada a você. 
Essa visita no passado abriu uma pasta no meu coração para você chamar de casa. Você fica lá e tá tudo bem. 
Mas, acima de tudo, essa volta praquela nossa fase, praquela versão minha que floresceu com você, me fez pensar que se já senti uma vez, nada impede de me sentir bem de novo como você me fez, como a gente se fez, como eu me fiz. 
 
A gente foi um quase. 
Todo esse tempo depois, hoje gosto de me sentir completo o bastante para somar com outra pessoa e assim transbordar juntos.  
E aquela camiseta eu vou continuar usando. 
Mas não foi a escolhida naquele dia.

por Crystopher Plekanovsky

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