Fim de um dia de trabalho. 
Oi para os gatos, tiro o tênis, largo a mochila e corro para a cozinha para preparar algo para comer. 

– Vou fazer um stories desse tomate picado. 

Dois minutos depois uma notificação do Instagram me avisa que há uma nova direct. 
De avental, com uma faca na mão e a tábua de legumes com uma cebola pela metade, não consigo me conter e vou dar uma checada rápida: 

– Hmm parece que vai sair coisa boa daí, hein? 

É você me escrevendo. 
Congelo quinze segundos do tempo na dúvida entre responder ou não. 
Largo o celular de lado e volto para o meu jantar. 

O problema é que é assim toda vez. Não eu cozinhando todo dia, mas você vindo puxar assunto do nada depois de desaparecer. No começo isso me animava porque dali nasceria um novo encontro e gosto de quando saímos, o problema é que é cada vez mais óbvio que você só me procura quando não encontra mais ninguém. 

E eu não quero esse papel na sua vida. 
Tampouco quero te cobrar algum tipo de relação que beire a suspeita de compromisso, o ponto não é este. É que cansa a gente sentir que ocupa o último lugar na fila de prioridades. Até mesmo para responder se está tudo bem.

Usando toda a empatia possível, vai ver você até queira mesmo encontrar a mim, talvez seja algo especial de você pela gente, mas você nunca me convence disso. Toda essa possibilidade se faz remota quando depois do nosso tchau você passa a demorar dias para me responder – quando responde -, quando você ignora minhas interações nos seus stories e quando passam semanas sem dar qualquer sinal. Quando estou te esquecendo você volta para atravessar meus dias. 

Já faz tempo que não me faz bem. Nas horas em que você e eu somos nós é sempre incrível, mas tudo vira nada depois que a gente se despede. Se é essa a dinâmica que você prefere para ter algo comigo, isso poderia ser dito e eu escolheria aceitar ou não. A gente precisa contar nossas intenções quando elas envolvem outra pessoa. É que você se esquiva sempre que toco no assunto – e fica impossível eu não me sentir descartável. 

Então, depois que me fez sentido que sempre sou a sua opção quando todas as outras estão indisponíveis, tenho mudado o meu jeito de interpretar você. Meu mundo não vai mais parar para encontrar o seu.

Ainda que insista no mesmo modelo de só me procurar de vez em nunca, no dia que eu sentir vontade da gente você vai saber, do contrário, sua mensagem vai ser só uma nova mensagem.  

Ficou mais claro, porém, o fato de que esse dia pode nunca mais chegar e, nessa sua próxima mensagem ainda que seja para um legítimo oi, outra pessoa pode estar me ajudando fazer o jantar. 

Por Crytopher Plekanovsky

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