Sem nada, não dá. Alguma coisa tem que ter. Sem nada, o pior pode acontecer. Tem que ter algo que nos localize. Um significante qualquer: um som, um gesto, um objeto, um cheiro, um gosto. Qualquer coisa que nos dê alguma direção. Pode ser uma letra. Tem que ser algo que faça algum furo no marasmo. Se for o caso, acenda a luz, ligue a televisão, abra a janela, beba uma taça de vinho, tome um ansiolítico ou um antidepressivo. Só fique com o nada se conseguir significar o próprio nada – como os orientais o fazem. O obsessivo certifica-se, tempo todo, da ordem de tudo. O artista cria. O militante crê na igualdade. O romântico espera um grande amor. O religioso vive para outra vida. Se for o caso, escreva, cante, dance, caminhe, mude os móveis de lugar, veja um filme, uma série, malhe, masturbe, cozinhe, entre nas redes ou leia qualquer coisa. Sem algum sentido, não é possível. Até bem pouco tempo havia mais outros com sentido que outros sem sentido. Ou seja, sempre havia um outro para nos ajudar com o nosso sentido. Isto facilitava – e muito. Agora, com todo mundo sem sentido, ninguém pode ser o sentido de ninguém. Nesse contexto, cada um precisa encontrar algum sentido para essa ausência generalizada de sentido. Parece que não estamos tentando apenas recriar a nossa própria vida. Parece que estamos tentando é recriar o próprio mundo.

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