A  jangada

Nossa vida é preenchida por uma infinidade de experiências que irão nos afetar de alguma maneira. Vivendo, estamos fadados a sofrer golpes do imprevisível, alguns chegam a nos desnortear e tiram nosso equilíbrio.

Creio que somos náufragos. E estamos navegando sozinhos neste oceano desconhecido chamado vida. A única coisa que nos acompanha e que temos controle é nossa jangada a qual é composta pelo que chamamos de “eu”, nossa famosa construção de nós mesmos, nosso ego, nossa identidade.

Por vezes, nos deparamos com mares turbulentos, esses podem significar diversas coisas: pessoas difíceis de lidar, uma crise no casamento, um desamor, um imprevisto no trabalho, um processo seletivo negado, ou qualquer notícia desagradável que altere nosso humor. Até um golpe mais forte: perder alguém que amamos, a faca no peito. Enfim, passamos por uma tempestade caótica e que parece não ter fim.

E o que podemos fazer em relação à tudo isso, se somos náufragos em meio à um mar revolto? Alguns, inexperientes, chegam a gritar com o mar. O que você iria achar de um náufrago que grita com o mar para que ele fique calmo novamente? Que se debate na água na esperança que o movimento de seus braços acalme os arredores? No mínimo que perdeu o controle de si. Está em pânico, com a alma ofegante. Imagino que é normal para um navegador, em sua primeira vez enfrentando algo tão inesperado, tentar de tudo, até gritar ou se debater em vão.

Este é o problema do novo navegador, ele ainda não entende que existem coisas fora de seu controle. Com o tempo, esse navegador irá aprender (caso se permita) mais sobre como lidar com o mar e como manejar sua jangada.

E assim se tornará experiente, passando por diversas tempestades e mares distintos, ele irá entender que não teria sentido gastar tanta energia numa ação vã: tentar controlar algo incontrolável como o mar.

Algumas ações que acredito ser realizáveis durante uma tempestade: se segurar na jangada para não se perder e se afogar no mar; remar com toda força para se manter em movimento e sair da tempestade.

E acredite, essa tempestade há de passar, assim como todas as outras. Às vezes nossa jangada poderá sofrer danos, podemos perder alguns troncos que a compunham. Dependendo da tempestade, pode restar apenas um tronco em que nos seguramos fortemente com lágrimas de felicidade por ter sobrevivido.

Incrivelmente, temos o poder de reconstruí-la em alto mar, criando uma jangada forte o suficiente para suportar a tempestade que acabou de passar. E logo, o desconhecido da vida criará novas tempestades, danificando novamente a jangada, testando nossas forças e capacidade de reconstrução.

E essa é a maravilha desse mar, por mais diversas que sejam suas tempestades, sempre poderemos aprender com elas. Sempre conseguiremos nos reconstruir e reaprender a navegar.

Porém, o mais importante, temos de ter noção que não temos controle de nada. Não temos controle sobre o trânsito, as ações especulativas da bolsa, o humor do ser amado, da chuva num dia de praia, do “não” de uma oportunidade ou da ação do desconhecido na vida de quem amamos.

Creio que a única coisa nesta vida podemos ter controle é da nossa reação e ação ao ambiente que nos cerca. São escolhas de agir sobre algo e reagir à algo. O resto vem acompanhado do movimento de nossa respiração. Ou seja, temos controle da nossa jangada, só isso nos basta. Não podemos controlar a nossa vida, portanto, o nosso mar. Na tempestade, siga firme e aceite-a, faça-a sua companheira, assim ela poderá ensinar muito sobre como navegar. Lembre-se “Mares calmos não fazem um bom marinheiro”.

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