Não sou eu quem digo, é a sabedoria dos antigos gregos. Conta a lenda grega que um tal de Tirésias foi enfeitiçado e virou mulher por 7 anos, até outro feitiço transforma-lo de novo em homem. Por isso, quando os deuses fizeram uma aposta sobre quem sentia mais prazer com o sexo, se o homem ou a mulher, decidiram consultar Tirésias, que havia experimentado os dois lados da cama.

“Se o prazer de uma trepada fosse um bolo com dez fatias”, disse Tirésias, “uma fatia ficaria com o homem, e as outras nove ficariam com a mulher”. Portanto, segundo ele, as mulheres sentiam dez vezes mais prazer do que os homens.

Mas não é preciso ser Tirésias e nem ser enfeitiçado para saber disso. Basta perceber o olhar e os movimentos das mulheres durante o sexo. Seus olhos giram nas órbitas como se estivessem em transe. Suas pálpebras ficam trêmulas e semicerradas como se elas fossem possuídas por um espírito selvagem. Seus lábios entoam gemidos como se fossem o cântico de uma liturgia pagã. E seus corpos se convulsionam como se elas estivessem prestes a serem transportadas a um outro mundo.

É como se o corpo inteiro de uma mulher fosse, no gozo, um órgão sexual. Enquanto o prazer do homem parece estar localizado na ejaculação e no seu pau, uma mulher em gozo parece extasiada em todos os poros de sua pele, em cada reentrância de seu corpo e em toda a extensão de seu espírito. Sim, durante a transa, o espírito de uma mulher parece tensionar-se feito um músculo.

E o homem, na cama, observa todo esse frêmito da mulher encantado. E ele só não fica assistindo o espetáculo pois precisa continuar a comer a devassa que tem nos braços, como um timoneiro que, apesar da beleza das ondas revoltas, tem de prosseguir remando, para conduzir a passageira de seu barco à terra de desvario em que só as fêmeas podem colocar os pés.

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Também o cardápio de coisas que excitam uma mulher é bem mais vasto do que a maioria dos homens supõe, e por causa disso muitos ignoram a potência do prazer feminino. Uma voz masculina, um beijo na nuca ou atrás da orelha, um roçar de braços, um cheiro de perfume e de pele, um sorriso espontâneo, uma brincadeira misturada com carícia, um gesto de proteção ou de cavalheirismo: tudo isso e mais incontáveis outros estímulos podem desencadear o lado safado de uma mulher.

Um homem, portanto, ao escolher os pratos que servirá à sua companheira na cama, não pode se inspirar apenas em seu próprio paladar, pois a mulher é capaz de saborear um cardápio muito mais vasto de delícias. Se quiser deixar sua companheira saciada, ele tem de conhecer toda as riquezas do paladar feminino com sua língua e com as outras extensões de seu corpo.

Mas se as mulheres são mais safadas do que os homens, porque muitos pensam o contrário? Em primeiro lugar, talvez porque é costume confundir safadeza com promiscuidade, e as mulheres conseguem ser safadas na cama com o mesmo homem por anos a fio.

Em segundo lugar, talvez o machismo tenha criado a fábula de que a mulher não gosta ou não deveria gostar de sexo porque muitos homens ficam inseguros diante da potência do gozo feminino. Alguns sentem-se ameaçados pela ideia de que as mulheres não são “pobres vítimas” das depravações masculinas, e sim criaturas docemente depravadas, seres que exigem de seus machos que eles estejam à altura das safadezas femininas.

Dispenso o testemunho de Tirésias. Os deuses gregos eram uns idiotas se precisavam consultar um mortal. Basta observar as mulheres na cama para reconhecer que apenas cabe aos homens a mais digna de todas as missões: fornecer às mulheres aquelas nove fatias de prazer a que elas têm direito.

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(As imagens são de posters do filme The Nymphomaniac, dirigido por Von Triers, e a inspiração para um texto veio quando assisti o filme La Vie d’Adéle, de Kechiche)

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