Essa é uma das frases mais subjetivas e pouco precisas que já ouvi de alguém falando para outra.
  
Explico.

Ela é uma afirmação feita sob um estado emocional não muito confiável e estável, parece a decisão de fazer uma tatuagem com o nome da pessoa amada. No momento em que se faz esse tipo de constatação a pessoa quer fazer uma anunciação para o outro e para si mesmo declarando a importância dela em sua vida. O problema é que ela não conta com a passagem do tempo, o amadurecimento da personalidade, as mudanças de perspectivas pessoais e a própria vontade do outro que não é controlável.Muitas pessoas acreditam que é possível realmente ter um amor para a vida, mesmo quando esse amor é baseado num relacionamento de idas e vindas ou sequer tenha se consumado. Mas isso é “amor” de mão única, logo é platônico, delirante e imaginário. O amor de verdade é uma ação que se faz a quatro mãos em que as duas partes florescem como pessoa.

Lembro de uma que dizia estar casada com um homem há quase trinta anos, mas que o amor da sua vida mesmo era um jovem com o qual se relacionou na adolescência. Contestei sua afirmação com delicadeza, afinal era uma crença muito arraigada e na qual ela se agarrava para suportar uma vida que ela própria afirmava ser medíocre, triste e nostálgica.

Depois de tantas conversas ela começou a pensar que o seu companheiro de uma vida estava ali do lado dela aquele tempo todo, com seus defeitos, estranhezas, manias e incompletudes, mas estava ali. Já o outro, o “amor da vida” tinha sido um relâmpago que mexeu com a vaidade dela e desapareceu tão rápido quanto tinha surgido. Ela entendeu que o peso que havia dado a ele era fruto de anos de imaginação em que ela havia se projetado em todos os lugares que esteve com ele e não com seu marido. Sua fantasia era tão realista que ela sentia saudade do seu amante imaginário quando não tinha tempo de imaginá-lo.

Finalmente ela entendeu que não é o sentimento e muito menos a intensidade que determina o amor, mas sim, as horas anônimas do dia a dia, lado a lado nas dificuldades e pequenas alegrias. Entendeu também que se agarra naquele amor potente e imaginário para dar motivação de viver uma realidade que ela não aceitava e da qual se sentia impotente para mudar, era seu consolo para as horas difíceis, como uma oração. Então pôde se despedir daquela criação mítica que alimentava o seu vazio e seguir em frente construindo algo de verdade, sem fantasias.

Com isso pensei que quanto mais enfática é a afirmação do “amor da vida” maior é o medo da pessoa lidar com os potenciais e até inevitáveis rumos imprevisíveis da vida. É como se ela se agarrasse numa âncora para ter certeza que nada vai mudar, que a felicidade está garantida para sempre e que não haverá nenhuma escolha ambígua pelo caminho.

Então vai um aviso aos navegantes de primeira viagem: a felicidade do amor é como uma massa de modelar que não se deixa endurecer, nunca está pronta e terminada, e precisa ser cultivada a cada dia com cuidado e esmero para fazer sentido.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui