O coordenador da força-tarefa da Lava Jato teria montado plano de negócios para lucrar com palestras, inclusive de autoajuda

Daniel Ferreira/Metrópoles

Oprocurador federal e coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, teria montado um plano de negócios para lucrar com a fama conquistada nas investigações. Ao lado do também procurador Roberto Pozzobon, ele fez planos para ganhar dinheiro, paralelamente à atuação no Ministério Público Federal, participando de eventos e palestras aproveitando a visibilidade e os contatos obtidos durante as investigações do caso de corrupção. É o que apontam mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil analisadas em conjunto com a Folha – que publicou o conteúdo neste domingo (14/07/2019).

Além de palestras sobre temas correlatos à operação – como ética e combate à criminalidade – Deltan cogitou, inclusive, entrar para o ramo de palestras motivacionais e de autoajuda. O objetivo dessas últimas, segundo o que indica o conteúdo publicado pelo jornais, era atrair o público mais jovem.

Em um chat sobre o tema criado no fim do ano passado, Deltan e um colega da Lava Jato discutiram a constituição de uma empresa na qual eles não apareceriam formalmente como sócios, para evitar questionamentos legais e críticas. Como procuradores, eles não podem figurar como sócios-administradores de empresas. Dessa forma, as esposas deles poderiam figurar como sócias.

A justificativa da iniciativa foi apresentada por Deltan em um diálogo com a mulher dele. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu.

Na sequência, ele cria um grupo específico para discutir o assunto com o colega de profissão. E começam as tratativas para a montagem da empresa. “Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, sugeriu Deltan no grupo com o integrante da força-tarefa.

“Essas viagens são o que compensa a perda financeira do caso, pq fora eu fazia itinerancias [trabalho extraordinário em que, ao assumir tarefas de outro procurador, é possível engordar o contracheque] e agora faria substituições”, justificou o procurador sobre a razão de ter proposto dar início às palestras, já que o trabalho na Lava-Jato impedia que ele se deslocasse e garantisse o cache extra.

“Enfim, acho bem justo e se reclamar quero discutir isso porque acho errado reclamar disso. Acho que o crescimento é via de mão dupla. Não estamos em 100 metros livres. Esse caso já virou maratona. Devemos ter bom senso e respeitar o bom senso alheio”, prosseguiu Deltan. Ele destaca que, no ano de 2017 o investigador teria faturado mais de R$ 200 mil com essa atividade. Apenas no MPF, ele ganhou, líquido, R$ 300 mil. Dessa forma, os ganhos mensais líquidos de Deltan teriam atingido aproximadamente R$ 44 mil.

“As palestras e aulas já tabeladas neste ano [2017] estão dando líquido 232k [R$ 232 mil]. Ótimo… 23 aulas/palestras. Dá uma média de 10k [R$ 10 mil] limpo.”

No mês seguinte, o procurador fez planos para o ano seguinte.

“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, disse o procurador.

Questionamentos
A reportagem relembra que as palestras do procurador da força-tarefa foi alvo de representação de dois deputados do PT: Paulo Pimenta (RS) e Wadih Damous (RJ). Os parlamentares entraram com pedido de abertura de um procedimento disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público. O requerimento, porém, foi arquivado, pois o órgão entendeu à época que as palestras se enquadravam como atividade docente, o que é permitido por lei, e ressaltou que grande parte dos recursos era destinada a instituições filantrópicas.

Motivacional
Outra sugestão de Deltan Dallagnol ao colega da Lava Jato foi dar início, além de palestras sobre corrupção e criminalidade, a temas mais populares entre os jovens. Em parceria com uma empresa local, eles dariam início ao empreendimento.

No dia 27 de dezembro de 2018, informa a reportagem em parceria entre os dois jornais, Deltan postou no diálogo: “Curiosidade não basta, até porque a maior parte dos jovens não têm interesse em Lava Jato. Para o modelo dar certo, teria que incluir coisas que envolvam como lucrar, como crescer na vida, como desenvolver habilidades de que precisa e não são ensinadas na faculdade. Exatamente na linha da Conquer”, disse, fazendo referência a uma empresa que promove palestras na linha motivacional e se apresenta como uma escola “aceleradora de pessoas”. À época, Deltan já havia ministrado palestras em eventos da Conquer.

O procurador sugeriu o desenvolvimento de um evento com o título “Turbine Sua Vida Profissional com Ferramentas Indispensáveis”.

Os temas do curso, segundo Deltan, seriam “Empreendedorismo e governança: seja dono do seu negócio e saiba como governá-lo”, “Negociação: domine essa habilidade ou ela vai dominar Você”, “Liderança: influencie e leve seu time ao topo”, “Ética nos Negócios e Lava Jato: prepare-se para o mundo que te espera lá fora”.

Outro lado 
As publicações procuraram o MP para se posicionar sobre as mensagens. Em resposta, ouviram que os procuradores não abriram empresas e que o trabalho de palestras é compatível com a carreira. A entidade disse ainda que não reconhece a autenticidade das mensagens

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