Somos – também – feitos de coisas que só podem ser vistas. Posso narrar uma história com começo, meio e fim. Há uma série de coisas que podem ser predicadas. No entanto, queremos tudo narrar e tudo predicar. Porém, há, em nós, o que só pode ser visto. Não sabemos o seu começo ou o seu fim. Não sabemos porque existe. Não há motivos ou causas. Não há predicado que faça sentido. É o que não tem passado ou futuro. Portanto, não deveríamos nos colocar na frente dessas coisas. Não deveríamos nos colocar como se houvesse uma continuidade. Não há. Essas coisas não são, porque se fossem, poderiam ser conceituadas. Não são enigmas ou mistérios, porque se fossem, desembestaríamos a tentar desvendar: é o que, geralmente, fazemos – inutilmente. Não podem ser substituídas, superadas ou passíveis de luto. São as nossas melancolias. São os nossos nadas. Não sabemos aceitar isso que, possuímos, sem saber do que se trata. Nossas angústias e ansiedades advêm da nossa obsessão em querer desvendar o que não pode ser desvendado. Para essas coisas, só podemos nos posicionar antes. Não adianta querer ultrapassar: não há nada depois. Só podemos olhar. Só podemos contemplar – como se fosse uma letra ou um número: quem criou o zero? Só podemos contemplar como se fosse um objeto impossível de atribuir uma forma, um peso, um tamanho, uma altura, uma cor, uma textura ou um gosto. Isso somos nós: é a nossa verdade. Quem – de fato – somos? Não somos. Não temos outra alternativa: temos que dar conta de enxergar isso de nós com toda tranquilidade, toda gratidão, toda paz e toda resignação que podemos.

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