Presidente desistiu da indicação de Roberto Ferreira Dias à diretoria da agência após acusação de que ele assinou contrato irregular como diretor de logística no Ministério da Saúde, mas mesmo assim o manteve no cargo

Roberto Ferreira Dias | Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Em outubro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro tentou indicar para o cargo de diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o diretor de logística do Ministério da Saúde que foi acusado de ter pedido propina a um representante de empresa interessada em vender vacinas da Oxford/Astrazeneca ao governo.

O titular do Palácio do Planalto chegou a publicar no Diário Oficial da União (DOU) a indicação de Roberto Ferreira Dias ao cargo de diretor da Anvisa para apreciação do Senado, mas solicitou depois que o pedido fosse desconsiderado porque vieram à tona denúncias de que Ferreira Dias tinha assinado contratos irregulares para a compra de testes de Covid como diretor no Ministério da Saúde.

Apesar da desistência em indicar Ferreira Dias para a Anvisa, Bolsonaro o manteve no cargo de diretor de logística do Ministério da Saúde.

A denúncia

Reportagem de Constança Rezende publicada na noite desta terça-feira (29) no jornal Folha de S. Paulo traz mais uma grave denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro: segundo um representante de empresa que vende vacinas, o governo pediu propina de 1 dólar por dose do imunizante da Oxford/Astrazeneca.

A denúncia foi feita ao jornal por Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati Medical Supply. Segundo ele, a proposta de propina foi feita pelo diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, que foi indicado ao cargo pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Barros, inclusive, é apontado como envolvido diretamente na negociata com indícios de corrupção na compra da Covaxin, vacina indiana contra a Covid-19. O jantar teria acontecido no dia 25 de fevereiro em um restaurante de um shopping de Brasília.

De acordo com a Folha, a empresa de vacinas queria negociar a venda de 400 milhões de doses por US$ 3,5 cada “O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa”, disse Dominguetti à reportagem.

Dominguetti detalhou que, no jantar, além de Ferreira Dias, estavam presentes “um militar em um empresário de Brasília”, e que o diretor de Logística do Ministério da Saúde teria afirmado, ao ouvir do representante da empresa a proposta de venda de doses, que “para trabalhar dentro do ministério tem que compor com o grupo”.

Sem entender do que se tratava, Dominguetti teria pedido para Ferreira Dias explicar melhor, ao que o representante do Ministério da Saúde teria deixado o pedido de propina mais claro. “Aí ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo”, contou, adicionando que “majorar” o valor do imunizante seria, na prática, adicionar 1 dólar por dose.

“Eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma”, prosseguiu o representante da empresa de vacinas, ao que Ferreira Dias teria pedido para que ele “pensasse direitinho” sobre o pedido de propina pois o Ministério da Saúde só trabalharia daquela maneira.

O representante da empresa de vacinas contou ainda que, apesar de ter recusado a proposta de propina, seguiu tentando negociar a venda dos imunizantes com o governo Bolsonaro e que, inclusive, foi até o Ministério da Saúde para uma reunião com Ferreira Dias e que o diretor teria lhe perguntado se ia acontecer “o acerto”. Diante de sua negativa, segundo Dominguetti, as conversas não avançaram.

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